22.5.09

Tudo sobre o nada (2)

Quão bom é saber que a sua realidade não depende da vontade alheia, de alguém que passa por você e, acidentalmente, tromba no seu ombro.


Vejo ao longe uma criança no balanço. Nessa minha caminhada aprendi muita coisa, vi muita coisa. Meu mundo andou, se movimentou, ou como diz Roland de Gilead "seguiu em frente". A menina ainda balança, mas como?
Não vejo mais ninguém, mais nada. Os prédios estão destruidos, só ha ruinas. Ela continua la à minha frente, balançando. Não vejo rosto, não vejo a cor de seu vestido. A árvore que se encontra próximo a ela, não tem vida, e ja ha um tempo. Ela é só uma rúbrica da existência, sem fisionomia, sem cores. Apenas um rabisco no papel, simbolizando nada. Querendo mostrar algo pra mim. Querendo mostrar o nada para mim.
O balanço está vazio. Parado. Só o vento o tira dessa inércia mortal, fazendo-o ranger, grunhir, gritos silenciosos de dor. O nada, repleto de vazio.
Sigo em frente nesse piso frio, seco. A cada passo esmigalho um pedacinho de concreto; concreto esse que outrora formava um prédio, talvez formace o terraço de um prédio. Agora no chão, sob meus pés -é a teoria do Hang Loose, que ouvi de uma forasteira sábia, misteriosa .
Na minha cabeça os pensamentos sempre fluem, de um lado pro outro, rodando, tentando achar um caminho pra fora dessa orgia. Meus olhos não são capazes de feze-los livre, nem meus ouvidos. Pensamentos não criam pernas e saem correndo. Ou criam? Idéias loucas me fazem crer que a vida é um hospício aberto. Essa rotatividade de pensamentos me causam euforia, angústia. Corro, pulo e rolo. Isso me acalma, mas temporariamente, apenas. Os pensamentos não estão libertos, apenas cansados. A mim resta achar a solução, um papel, um lápis. A mão se move, a mente desenha, a mente escreve. Alucinações são comuns. Vejo imagens, tento transcreve-las, mas a coordenação motora não está afiada. Não sai imagens, e se saísse, esses pensamentos desenhariam linhas abstratas, verdade seja dita, não gosto de arte abstrata. Ah, se eu pudesse tirar uma foto do que vejo. Descrever o que vejo seria impossível, seria o mesmo que jogar palavras ao ar.
Procuro saber que caminho seguir, só as estrelas me dizem. Minhas amigas. Fiéis amigas.
Minha mente está livre, vazia, agora sinto paz. Avante! tenho comigo meu carrinho, esse pedaço de madeira me ama, e eu não o faço de forma diferente. Liga o Led Zeppelin, por favor. Perfeito, siga meus rastros, não há obstáculo que me pare agora, nada que desacelere meus desejos. Meu motor gira constantemente, jorrando litros de sensações que me fazem andar, correr, pular no carrinho e remar. Remar em terra firme, que outro objeto te possibilita isso? O amor é incondicional, eu o levo, ele me leva, Deus nos protege. Meus rastros estão aí, siga os pés... Siga esses dois riscos que se confundem com as nuvens. Talvez você olhe pra baixo, e a unica que que você vai ver, será o fim. O fim da estrada.
E é exatamente aí que começa a minha jornada.

Vitor Germano Viçôzo

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